Escudo colocado no bico do seio, antes da amamentação, libera substância que desintegra o HIV. Testes comprovam eficiênciaRodrigo Craveiro/ Da equipe do Correio Elizabeth Kneen/DivulgaçãoDisco impregnado com dodecil sulfato de sódio e acondicionado no bico de silicone é arma contra a Aids: africanas inspiraram especialistasAlém de serem obrigadas a lidar com a dura realidade da Aids, mães soropositivas que conseguem dar à luz filhos saudáveis sofrem com o fato de não poderem amamentar. Para muitas delas, a limitação imposta pelo vírus é fatigante demais e chega a ser uma violação à maternidade. Se depender dos esforços de dois britânicos e quatro norte-americanos, mulheres infectadas com o HIV poderão em breve oferecer o leite materno ao filho sem receio de contaminá-lo. A equipe — formada por engenheiros químicos e mecânicos, matemático e biomédico — desenvolveu um dispositivo que se encaixa ao bico do seio e “filtra” o leite. O escudo, como é chamado pelos seus criadores, inativa o HIV sem, no entanto, interferir na amamentação.Em entrevista ao Correio, a norte-americana Elizabeth Kneen, engenheira mecânica da Universidade Franklin W. Ollin (em Needham, Massachusetts), explicou que o segredo está em um disco de tecido impregnado com dodecil sulfato de sódio (SDS, pela sigla em inglês), inserido dentro de uma bolha com o formato do mamilo. A substância consegue dissolver o vírus, no momento em que o leite passa pelo dispositivo, antes mesmo de alcançar a boca do bebê. “O que ocorre é uma reação química: o SDS quebra a camada dupla de lipídios (gordura) do vírus, expondo-o e levando-o à morte”, disse Elizabeth. Tudo o que a mãe precisará fazer será colocar o escudo diretamente no seio e deixá-lo durante o tempo que durar cada mamada. “O disco seria trocado periodicamente, uma ou duas vezes ao dia, dependendo dos parâmetros do agente ativo e de seus excipientes”, acrescentou.
Apenas entre 15% e 45% dos bebês nascidos de mães soropositivas contraem o HIV. Desse total, 35% se infectam durante a amamentação. O fato de 50 mil crianças africanas se contaminarem com a Aids a partir do leite materno, a cada ano, motivou Elizabeth e seus colegas a pensar no dispositivo. “Eu acredito que o escudo tem potencial para se tornar um produto revolucionário”, aposta a engenheira mecânica. Os testes com o invento, feitos pelo laboratório da Universidade Drexel (Filadélfia), tiveram uma eficiência próxima aos 100%. “Ao simularem o uso do produto com o bico de mamadeiras, os cientistas descobriram que 0,1% da concentração de SDS é capaz de eliminar o vírus em um minuto”, afirmou Elizabeth.Os pesquisadores trabalham agora para identificar outros laboratórios dispostos a confirmar a eficácia do escudo. Eles querem ter certeza absoluta de que o dispositivo não abre brechas para a contaminação pelo HIV. “Começaremos com os testes in vitro, antes de nos movermos para as lactantes”, explicou a engenheira mecânica. Ela estima que a comercialização do escudo seja possível entre cinco e sete anos. “Tudo vai depender da pesquisa e da liberação do FDA — a agência reguladora de alimentos e medicamentos nos Estados Unidos.”Um recente estudo mostrou que a administração de medicamentos antiretrovirais para um bebê reduz a transmissão de HIV pela amamentação. “O problema é que o coquetel tem efeitos colaterais. Além disso, seu uso pode levar à evolução de vírus resistentes, que complicariam o tratamento da Aids em crianças infectadas apesar de medidas profiláticas”, disse Elizabeth.
O escudo teria outra aplicação: mães saudáveis poderiam adquirir o produto contendo fórmulas terapêuticas, como antibióticos, vitaminas e minerais. Uma única dose da droga, misturada a agentes de sabor e ao açúcar, seria oferecida aos bebês, por meio do seio.O númeroRisco de infecção50 mil é o número de crianças africanas que contraem o vírus HIV a cada ano, por meio da amamentação.


correioweb de 23.09.2008
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http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=1651309&tid=5249207964301150827&na=4 (Orkut - Comunidade Pediatria Radical)